18 agosto 2004

O Perdedor
(...)

O erro do perdedor é querer morrer inocente. Morrer no tiro que erra o alvo, na hora errada e absurda.
Somente assim, pensa ele, se justificam os pecados não cometidos. Morrem as exasperantes oportunidades desperdiçadas, as chances de dizer : "sim", "não".
O perdedor quer sofrer e ser melancólico sem ter saído à rua, um dia sequer, com a vontade de vencer o medo da dor. No tiro que erra o alvo se vai a culpa por ter errado tanto em se esconder dos erros que cometeria tentando.
Ei-lo, um fraco, que existe, apesar de tudo, em cada hesitação e fuga do destino que bate à nossa porta diariamente. Mas não culpemos o destino pelas crianças que irão morrer sem perceber que só se vive agora uma vez.
O tiro é a única chance do perdedor oferecer ao mundo um exemplo, temperado com injustiça e santidade. Mais injusto, no entanto, é ver morrerem os fortes. Triste é ver morrerem os santos, que mergulham na malícia e não se afogam. O perdedor quer, intacto, ser purificado pelo acidente que, ao contrário do suicídio, não lhe exige nada.
Ele pode esperar. Esperar até mesmo sua última derrota.
O tiro não virá.
(...)

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