22 outubro 2004
Ainda Caminhando
O meu sangue não estava espalhado nas paredes de mármore do metrô na Carioca
A vida continuava lá fora
Desafiando a lógica de minha angústia
O desejo de parar o mundo com um grito calou minha voz
Gostaria de escrever algo em sangue aqui
Mas dos olhos não escorrem sequer lágrimas
Incapaz de competir com salmos mal interpretados
ou com os malabares mambembes que povoam o Largo
Não declamarei aqui minha canção de protesto
Vou debochar dos carros engarrafados na Avenida Chile
Flanando em direção a Lapa dos boêmios
Onde vagabundos sagrados reinventam revoluções
Nas ruas apinhadas de gente tão diversa
Ecoam verdadeiros versos revoltados
E odes, sorrisos sinceros, de amor à felicidade
Inebriado pelos sons e perfumes da cidade
Recupero minha fé no mundo e minha angústia se cala
A dor no peito, o mundo inadequado, me dão trégua
Ainda que nada tenha mudado e que amanhã seja sábado
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