A refexão acerca do mito de Pandora não é nenhuma novidade. Por isso, não direi nada de novo para quem já teve contato com os inúmeros ensaios de Psicanálise sobre o tema e seus desdobramentos.
Mas antes que você desista de continuar lendo posso garantir que este ensaio também não tem a pretensão de soar como algo acadêmico (e nem pode mesmo fazê-lo). A única intenção é buscar alguns parâmetros baseados na pior coisa que o ser humano pode ter: a experiência pessoal.
Na verdade, esse mito grego da criação da mulher sempre me fascinou pela riqueza de significados e complexidade de desdobramentos. Já li várias versões desta mesma história desde os meus dez anos de idade(garoto precoce,hein?), folheando as coleções da editora Abril até os livros de Kerenyi mais recentemente.
Uma história pode revelar tanto a visão que o mundo tem das coisas quanto a evolução interna de nossa própria visão do mundo.
Encontrei uma ótima descrição para aqueles que não a conhecem, basta clicar na linda imagem abaixo. Essa é a descrição mais fidedigna ao mito original e dá um panorama mais completo sem as eventuais confusões acerca das origens dos personagens.
Postei em seguida um trecho que achei belíssimo no site da Wikipédia.
Bem, esta é apenas a introdução do tema. Nos próximos posts vamos ver o que sai desta cachola.
…Filho de Jápeto, sobre todos hábil em suas tramas, apraz-te de furtar o fogo fraudando-me as entranhas; grande praga para ti e para os homens vindouros! Para esse lugar do fogo eu darei um mal e todos se alegrarão no ânimo, mimando muito este mal’. Disse assim e gargalhou o pai dos homens e os deuses; ordenou então ao início Hefesto muito velozmente terra à água misturar e aí pôr humana voz e força, e assemelhar de rosto às deusas imortais esta bela e deleitável forma de virgem; e a Atena ensinar os trabalhos, o polideláleo tecido tecer; e à áurea Afrodite à volta da cabeça verter graça, terrível desejo e preocupações devoradoras de membros. Aí pôr espírito de cão e dissimulada conduta determinou ele a Hermes Mensageiro Argifonte. Assim disse e obedeceram Zeus Cronida Rei. …Fala o arauto dos deuses aí pôs e a esta mulher chamou Pandora, porque todos os que têm olímpia morada deram-lhe um dom, um mal aos homens que comem pão. E quando terminou o íngreme invencível ardil, a Epimeteu o pai enviou o ínclito Argifonte veloz mensageiro dos deuses, o dom levando; Epimeteu não pensou no que Prometeu lhe dissera jamais dom do Olímpio Zeus aceitar, mas que logo o devolvesse para mal nenhum nascer aos homens mortais. Depois de aceitar, sofrendo o mal, ele compreendeu. Antes vivia sobre a terra a grei dos humanos a recato dos males, dos difíceis trabalhos, das terríveis doenças que ao homem põe fim; mas a mulher, a grande tampa do jarro alçado, dispersou-os e para os homens tramou tristes pesares. Sozinha, ali, a Expectação em indestrutível morada abaixo da bordas restou e para fora não voou, pois antes repôs ela a tampa no jarro, por desígnios de Zeus porta-égide, o agrega-nuvens. Mas outros mil pesares erram entre os homens; plena de males, a terra, pleno, o mar; doenças aos homens, de dia e de noite, vão e vêm, espontâneas, levando males aos mortais, em silêncio, pois o tramante Zeus a voz lhes tirou. Da inteligência de Zeus não há como escapar!
Hesíodo, Os trabalhos e os dias; Primeira Parte, Trad. Mary de Camargo Neves Lafer; ed. 3a.