07 abril 2008

A Carta "É Pilha" - Da série "Baralhinho do Momento" do site ANTIPROPAGANDA



Você chega da boate cansado. Cansado das luzes estroboscópicas, do som alto, das mulheres bonitas, dos vetos completos e das danças corretas. Nada o ajudou em nada e mais uma vez sozinho, às 4:15 da manhã você está.

Seus amigos seguem pra casa, você entra no seu prédio, cumprimenta a portaria, entra no elevador social, aperta o cinco, percebe que o elevador social está desligado, sai do elevador social, entra no elevador de serviço, aperta o 5 e sobe junto com o conjunto. Badúúúúúúúú....

O elevador chega e a cortina abre. Cansaço forte, sua cama vai ser demais. Solidão, pra quem conhece, tem suas vantagens.

Mas quando você sai no corredor e pisa no chão, você sente mais do que chão, você sente água. Olha pra baixo, pisa de novo, splat, splat, é água mesmo, maluco. Que porra é essa, você xinga em pensamento de dúvida e enquanto caminha pro seu apartamento, você percebe que a água o persegue. E ao dobrar a mini-esquina do corredor, realiza, na surpresa, que a água que desce, e desce forte é sua! Está saindo do seu apartamento!

É pilha!

Você já adrenaliza o corpo, busca a chave no frenesi, enquanto a água jorra gostoso por baixo da porta da cozinha da sua casa. Você abre a porta na loucura e a água acumulada lambe a sua canela esvaziando a cozinha. Parece que uma piscina Tone rasgou na tua frente. Mas não é isso e você sabe. Você não tem uma piscina Tone, a alegria da garotada. E a realidade do momento não é de alegria.

E há dois tipos de problema neste mundo, minha gente: o problema tipo meu, e o problema tipo seu. E esse problema é tipo seu!

E sendo seu, você vai seguindo o fluxo, como aquelas expedições do globo repórter, em busca da nascente do rio 503 bloco 2. Você vai pelo barulho, passa por você um saco de bisnaguinha seven boys e você realiza que a situação é dramática. Você alcança a área de serviço se agarrando nas coisas e encontra a nascente do rio.

E a nascente do rio é seu pai, de cuecas, bêbado, tentando com o dedo indicador conter, quase que moralmente, porque não está fazendo a mínima diferença, uma enxurrada de água violenta que brota da parede sem parar, no lugar que até agora pouco era o tanque de lavar roupa!

É pilha!

E, amigo, a água que brota da parede, brota num volume, numa potência, que faz a caixa d'água do prédio borbulhar que nem filtro de galão. Bablug, Bablug, Bablug!!!

É pilha! É, é sério.

Teu pai, de dentro do chafariz em que se transformou a sua área de serviço, te reconhece e dá a notícia que você já sabe.

- Filhinho... deu merda.

Porra, claro que deu merda!

- Filhinho... bota o dedo aqui que teu pai vai resolver. Segura aqui essa peteca.

Teu pai tira o dedo do buraco e sai um jato tão forte que teu pai patina surf e cuca o tanque. E cuca forte! Você ajuda, os dois caem, é água pra cacete, teu pai levanta, você afoga, teu pai cai, você levanta e vira briga de palhaço a área de serviço. Meia hora de bobeira, abrindo espaguetti e você e teu pai conseguem levantar juntos, ao mesmo tempo e teu pai sai saindo, meio patinando, meio se apoiando, meio não entendendo porra nenhuma do que está acontecendo.

Você volta pro buraco mete o dedo, tentando fazer o melhor, mas é impossivel. Água é água e a água escapa por tudo quanto é lado. E você que estava cansando, pensando só na sua cama, agora está de pé matando água nos peitos, revezando de dedo no buraco, arriscando a saúde no frio e vendo o tempo passar nos litros e litros de água que se perdem na loucura.

Depois de meia hora, com a pele enrrugada, o dedo indicador azul, o médio paralisado, a camisa transparente e o pulmão assoviando você se pergunta: porra, cadê papai?!

Na busca pela verdade, você abandona o posto, o jato engrossa, a caixa d'água babluga e você mete pela cozinha. É água. Você invade a sala, é água. Rompe pelo corredor, é água. Passa pelo banheiro, é sua mãe sentada não entendendo nada. Você passa pelo escritório, é água. E quando você abre a porta do quarto do seu pai, vem o choque, o verdadeiro choque térmico:

Teu pai está deitado na cama, de cuecas, todo encharcado, dormindo. Dormindo de roncar.

Um grito ecoa forte, muito forte pelo edifício Eugênio de Alencar:

É a carta É Pilha fazendo BLAU!!!!!!

As luzes dos apartamentos se acendem, pessoas aparecem nas janelas, teu pai levanta só a cabeça e no silêncio depois da corneta, todos ouvem juntos, intrigados, um som mais do que misterioso:

BABLUG!


Do genial site ANTIPROPAGANDA. O link 'tá ali do lado, ó!

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