02 fevereiro 2014

Blaseé


Blaseé


Não busco a verdade sem sentido
Busco dar sentido a verdade que sinto
Sem querer fiéis alunos ou soldados
Pois sequer sou mestre do que é em mim
O querer de meu coração

Não subirei a montanha mais alta
A procura de ascetas ou de Zaratustra
Não me tornarei nunca um super-homem
Ou descerei com tábuas vomitando regras
Para querer ser Avatar de qualquer nação

Não me abalam as conspirações ou (des)governos
Não procuro a fórmula da Coca Cola
Ou o nome secreto de Deus nos átomos
A cura do câncer ou da calvície
Não me tornarão Barão ou mesmo herói

Não quero ser presidente ou herói de nada
Não legislo profetizo proíbo ou recomendo
O guardanapo manchado de gordura deste poema
Não guarda segredos ocultos da pedra filosofal
E não foi inspirado por anjos, caídos ou não.

O poema no guardanapo tem função e objetivo
Que não a de bálsamo ou de salva-vidas
Não é salmo ou filosofia ou canção
Nada tem a ver com minha insônia ou dor de dente
Ou com minhas esperanças e desilusões

Ainda que eu tenha subido ao palco
Que tenha rasgado o peito e mostrado as veias
E tenha gritado verdades que descobri anteontem
Conversei com poucos irmãos e abraçados choramos
A morte do inconformismo, o medo do medo da morte

"Não sou eu quem vai mudar o mundo"
É o novo mandamento universal, novo grilhão
É o fim de tudo, o buraco negro do inconsciente coletivo
E o mundo não muda mesmo e continua
Acreditando em lindas superstições estéreis

Adiarei meu suicídio com estas cartas
E nelas buscarei conforto por não ter me curvado
Ainda que o futuro me perverta o coração
Ou me seduza com seus irreality shows
Este guardanapo irá congelar esta emoção

O sol nasce no fim da Frei Caneca
As cadeiras estão viradas sobre as mesas
E eu com meu guardanapo-espelho fotografo
O movimento do mundo ensimesmado e blasée
Que não reconhece a importância de nada

Agora, no espaço final deste esboço,
Posso confessar meu único último desejo
Que desejei há menos de um minuto
Feliz... Porque talvez me tenham ouvido
Busco, em meu ofício desvairado, provocar.

(Poema constante no livro "A dieta da felicidade")

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