31 agosto 2014

A quem venderei minha alma?




A quem venderei minha alma ?


Canto I

E não foi então que me vi afastado da vida real
E chorei copiosamente por me saber um completo idiota
E vi que o inferno habita na dúvida e não no erro

Como o que acorda com um tapa na cara
Sentindo-me ainda tonto do que houvera
Retirei da fronte a grinalda de hera e segui em frente.
A selva densa era um mar de gente e treva

Eu queria me encontrar com o DIABO!

E, sem Virgílio, Drummond ou Pessoa
Atravessei os portões da agonia
Sem querer mais a santidade dos passos de outrora
Mas o segredo da heresia
Abraçado a poesia
a mesma literatura que me deixou doente.

Canto II

Antes que me peguem pelo braço explico
Que esta vida real que ainda me foge ao entendimento
Palco de guerra, desejos e pecados capitais
É, para vocês que não sabem o que é viver o sonho,
O mundo.
O mundo que vos cerca
Ensinado por suas famílias
Nos catecismos e terreiros
Nas trincheiras
No trabalho tautométrico e
Que lhes foi mal ensinado nos livros didáticos
Ou invade a sala pelos telejornais
Na teledramaturgia do merchandise
E em documentários inteligentes do History Channel.

Tolos, todos vós que pensais, que este mundo é o inferno.

Canto III

Esse mundo de enganos da vida real
A vocês, que não sabem o que é viver o sonho,
Pode parecer injusto, cruel e ingrato.
Mas, para sua tristeza final o que é certo
E é fato
É que este mundo cruel
Injusto
Guloso
Avaro
E preguiçoso
É apenas o nosso retrato.
Apenas o nosso retrato

Canto IV

Ah! Mas por quê me embrenhei desperto em meio a treva?
O que quero eu com esse blá blá blá

Eu quero é me encontrar com o DIABO
E vender-lhe, pessoalmente a minha triste alma
A troco de nada além do esquecimento.

O vigário pediu minha alma
E quis me dar salvação
O pastor cobrou mais caro

O pai de santo prometeu um acordo
O meu patrão um abono
A minha mãe apenas pediu pra que eu fosse bom

O garoto do sinal me pediu um real
A platéia pede que você sorria (ou morra)
O que for mais divertido

Os invejosos querem meu sangue
As putas me pedem dinheiro
E vocês, talvez, apenas um bom poema

A felicidade, cenoura pendurada em frente ao burro,
Me trouxe sangrando até aqui

O amor talvez me pedisse menos se me amasse

Canto V

Vocês ainda se perguntam o que é o inferno?
O inferno é o passado
O não esquecimento

O purgatório é o seu presente
E a cenoura, seu futuro.

DIABO! DIABO!
Apenas em troca do esquecimento.
Pois sinto remorsos e ainda tenho esperanças
Ainda me decepciono com o ser humano
E vivo no sonho
Adoecido pela literatura

A quem venderei minha alma?
Procuro quem faça bom proveito dela.

Talvez nem ao DIABO ela interesse
Pois sou cheio de Ira, orgulho e vaidade.
E não há como não ser mastigado pela mandíbula maldita de Belzebu

Você quer comprar minha alma?
Pra fazer o quê?

Comprem, por favor!
Ela não vale mesmo nada
Ela vaza em letras empilhadas em versos

Talvez façam melhor uso dela
Do que eu.

27 agosto 2014

Dieta da Felicidade




Às vezes faço poemas
Às vezes faço receitas
Dependo de ingredientes
Pra seguir nessa dieta

Sou poeta e cozinheiro
Isso não me traz dilemas
o mundo todo na cachola
refogado no tempero

Palavra sal alcaparras
pimenta metáfora azeite
Pé na estrada e sacola
Viola afinada e canções

Às vezes faço poemas
Às vezes faço receitas
A minha dieta é perfeita
Me alimento de emoções

20 agosto 2014

Curiosamente



De repente te percebes em meio à chuva
Com lágrimas nos olhos
Confuso
A observar nos outros os sorrisos que agora
Recusam veementes visitar-te

Te percebes assim
de repente

E estupefato
ao mesmo tempo atordoado
Fazes um poema
E isto não te basta

Isto curiosamente não te basta
mas não te desesperas

Curiosamente não te desesperas
e começas a pensar
na absurda hipótese de teres desvanecido
evaporado
morrido
de repente
bem no fundo

Mas curiosamente ainda caminhas

17 agosto 2014

Clandestino



Caço percalços
Calço ventanias
Memórias de caminhos
estradas
Paisagens calcadas
Nas retinas
Viagens com a mente
Pontes
Cantos
Caminhada
Viola
Boa história
Música
Poesia

Clandestino
Invado fronteiras
Inverto ponteiros
Invento sentidos
Respiro montanhas
vitória é calçada
Música avenida
Texto teletransporte
Filme fotografia

A boa vida é a arte boa
De saber o quão boa é a vida

Sou com o destino
Clandestino
Homem de passos
Menino indígena
Poeta

Minha seta
Minha senha
Minha Sina
oficina artifício
meu sinal
meu sonho
meu sino
meu hino
meu amém
meu universo
vício dos ossos
literatura ofício
paraíso
palavra
cura
míssil
regresso

Somos nós
São os nós
Os insanos senões
O ser tão
os sermões
o ser mais
Pessoas
Camões
Sou eu
Clandestino
Homem indígena
Poeta
Menino

Invado sentidos
Atravesso fronteiras
Invento porteiras
Respiro montanhas
Caço percalços
Calço ventanias

10 agosto 2014

A Era da Estrela, Arcano Maior




A morte do reprovável impera na escola
Alguns chamam de pós-modernismo
Borbadeiam-me com maus presságios
As ilhas de ódio de nossa Babel moderna

Torres caíram como as das cartas do tarô
O pessimismo me acena com o apocalipse
Alienígenas que chegaram antes de nós
Todos mutantes indígenas adolescentes

Aprenderam a atirar na internet
E a falar javanês
A questionar Deus e fazer troça das leis

A cor da pele, o sexo e a língua são trincheiras
"Adeus às fronteiras?" gritam generais indignados
"Haverá escassez de soldados" indicam estatísticas

"Convoquem a mass media, propaganda"
"Vão ruir as pirâmides!", estão apavorados
Não se antevia hipótese de nos falarmos

Vozes em uníssono coro foram ouvidas nas rádios
Pedindo mais humanidade, poesia e menos choro
Mais uma vez, na fundação, Babel ruía.

A liberdade é a droga que mais vicia



06 agosto 2014

Poetas



Os melhores poetas batalham
Como nas empresas
Ganham troféus, medalhas, canudos
Concursados, julgados, performáticos
Como se aritmética medisse o sentimento
Atiram ao vento pérolas e causos
Que irão ter notas como num desfile

Mas agindo na surdina, os sorumbáticos
Os outros, menores, ficam mudos
Sua empreitada é como a de matemáticos
A poesia destilada das esquinas
Querem que o verso livre
Querem mais livros
Querem irmãos e não adversários

Vão bater palmas para os bons poemas
Vão sempre bater palmas para os bons poemas
E juntos baterão palmas pelo encontro
Pelo amor a vida
Pela superação do ego
Pela busca de fraternidade
Pela música
Pela beleza da compreensão
Pela perda dos sentidos
Pela lista obrigatória de movimentos do kata

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