11 novembro 2018

Última Cruzada

E o exército da paz será pisoteado
pelo homem pobre
engaiolado na farda
pelo homem de crachá
que pintou no dinheiro:
       Pra Deus

Mas escrito na tradição
É a César o que é de César
(E aos seus o que é dos seus?)

Uma última cruzada
          pela alma lavada
                             levada
                             leve


29 setembro 2018

Anti Credo

Creio na mentira
na impunidade
na conivência covarde
na venda de indulgências
na exploração da fé

Lavado seja o dinheiro
Aqui na terra como na Suíça
Não nos deixeis cair em investigação
e livrai-nos da Democracia
Amém


29 abril 2018

O Jusnaturalista (Por Peter Pane)

       (Segunda Parte)

                   Como
Com-
          bater a lógica
                           dos coiotes?

Com boi-
                 cotes
Com cotas
                Com cortes
Com votos
                   Com fatos
Com festa
           Com atos
                 De protesto
      Cortes na testa
                  Con-
                  tato
       Com o cassetete
      Com interrogações
????????????????????????? 
           
                Poema(s)


13 abril 2018

Desfile oficial

Invenção humana ocidental
O Estado e a República Federativa
Desfilam diante dos eternos índios

O enredo é  Legitimidade e Democracia
Papo de grego que nem inglês vê
Mas o júri jura competência.

Bandeira verde-desbotado enlameada
Nesse faz-de-conta em que o ouro é amarelo
O quesito fantasia sempre nos tira pontos

Belos nomes para cargos inúteis na ala de frente 
Alguns prédios alegóricos para guardar papéis
Uma força policial maquiavélica na dispersão
   
A vergonha na cara perdeu pontos
A falta de ética vai ganhar mais uma vez
no País do Carnaval


31 março 2018

Por que me ufano?

Na esquina
do país em ruínas
a criança espera
a melhor hora
para o furto.

Esperava esmola?
Escola,
fruta, futuro?
Brinquedo?
Casa?
Família?

Esperava por nada.

O moleque é malaco
e só maluco não vê:
não tem medo da morte
quem nasceu condenado.

Sobrevive pouco
quem não lê cenário:
A sociedade quer sangue
e não pode esperar.

Um plenário vampiro
repleto de analfabetos emocionais
vai consubstanciar o ódio
num júbilo gozoso
em troca do voto
da classe mérdia entrincheirada
em seus condomínios
e mentes fechadas

Revoltados de fachada
Muitos, certamente, ótimos cristãos
que não sabem sequer ler a Bíblia
com os olhos do amor de Jesus
sairão às ruas para encarcerar menores
ao invés de criminalizar o descaso

"Criamos monstros no quintal
e agora temos medo
de sair de casa."
Disse a velhinha assaltada
pelo garoto
enquanto o poeta se distraía
compondo mais uma ode
      a nossa imbecilidade
                                 Pindorâmica


27 fevereiro 2018

Exu ex Machina

(para Marcelo Adifa e Alexandre Guarnieri Daniel Minchoni Samuel Luis Borges Alexandre Durratos Filipe Pamplona Alves  )

                        I

A acidez das palavras
abriu buracos
no disco rígido

              A tua linguagem
(ob)(s)(c)en-o(bit)a/hexadecimal/percussiva
                 -dadaísmo-
                 -randômica-
         Deu pane no sistema
           E pano pra manga
                  E parou
                  Eparrei
                  Laroiê

Deu
       x
     e
Ex
     u
   ex
Machina

                     II
Onde está o poeta?

Sobre o Rocinante cibernético
Contra quais gigantes?

A poesia se conecta
Ao onírico com hipertextos
Sob as bênçãos agnósticas
da eletrodinâmica quântica

16 fevereiro 2018

Balanço Geral

A fome no mundo
A impossível omelete
Com ovos de ouro

Todos os futuros milionários
Amarrados às galés na viagem
para terra do nunca

Querem-lhe imaturo
Transmitem o medo
Captamos apenas o mesmo sinal

Preso ao trabalho inútil
Seus colegas querem silêncio
E voltar mais cedo para cela

A sua vontade de pirâmides
Seu antigo sonho de astronauta
É software incompatível.

Vida nível hard
Anestesia impossível
Injeção de ânimo que errou a veia

Caminha farto de semideuses
E de maus poemas
Utopia em lugar algum

O despertador desperta
A dor do despejo diário
interrompe o sonho

"Há tanta fome no mundo,
Você tem sorte"
O artista tem que remar mais forte

O artista tem que remar mais forte
O artista tem que driblar a morte
O artista tem que remar mais forte


12 fevereiro 2018

Ode aos justos

Às vezes o desespero
Tira a voz dos homens
E os paralisa

Benditos
Os que levantam a voz
Em defesa dos injustiçados

Por gentileza
         por coragem

Pela pura incapacidade
     De conformar-se

Amai a liberdade sobre todas as coisas               Para todas as coisas


      Mais do que a ti mesmo

                    Amém


08 fevereiro 2018

O striptease das tripas




"Nenhum ato no mundo será segredo"
Este grande tabu, grande medo,
peçonha que faz das tripas brinquedo,
põe a mente aprisionada em um camarim.

A arte se vende: striptease da vaidade.
O gosto insípido da virtude,
verdades morais que não passam no polígrafo,
novo mundo nada admirável.

Nós mesmos cada vez menos
Nós mesmos cheios de nós
Cada vez mais vazios
transmitindo via satélite nossa trapaça.

A tara frívola quer celebridade
e eterniza os filhos feios do delírio.

O mundo líquido pede almas plásticas.
O mercado diz: "vendemos arte!"

Desnudai sonhos, mundo novo!
O corpo pertence aos cemitérios.
Os sabores da vida são mistérios.

¿Catar-se na catarse ou suicidar-se?

O poeta declina
Reclina a poltrona
Comete Seppuku
no ciberespaço.

(inspirado em Giovani Baffô Aldous Huxley Bauman Dostoiévski e principalmente em Tom Zé)

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